
Nasci na margem, na rua da: João Alfredo, palco de carnavais com bisnagas, serpentinas e confetes pós quaresmas, ou melhor, na beneficência portuguesa, na época que ainda se podia ver o rio dali do inicio da independência. A infância de costas para o rio se deve provavelmente por minha mãe ser ribeirinha, vizinha por anos do asilo padre cacique, naqueles dias à beira rio. Esse temor de cheias é um companheiro latente desde pequeno, morávamos num prédio na rua Botafogo, no coração do menino deus, acordamos uma manha com o piso do apartamento térreo tomado pela água, não chovia, não havia problema em nenhuma estação de tratamento, rompimento de adutora ou ainda dique extrapolado, um erro de projeto fez das caixas d’água, nosso algoz… e pela primeira vez, sentimos o pavor de ver subir a água e invadir nosso sono. Logo depois com a chegada da nossa irmã – a primeira de duas, precisamos nos abrigar num apartamento maior
e a proximidade com o parque de exposições da secretaria de agricultura onde hoje é o CETE com os seus cheiros e trânsito de animais nos movimentaram e a república, aquele tapete roxo de pedras portuguesas e paralelepípedos tomados pelo florescimento dos jacarandás na primavera, foi o nosso destino e chão por vinte anos. Agora no primeiro andar, mas não livres do enchimento da via pública nos meses de aguaceiros. Estudei ali, onde a Martha ouve hoje o alvoroço do recreio, escola com nome difícil: Professora Leopolda Barnewitz ainda com acesso pela republica, lembro de muitas vezes a gente ter que fazer alguns malabarismos para entrar em sala de aula por causa da água. Dali para Florianópolis e lá, pra cima do morro, fiquei pulando de um em um, só não morei no topo do morro da lagoa;; São Paulo, também lá perto da paulista e – na volta para leal e valerosa, o morro santa teresa é o meu poleiro desde então, moro na cruzeiro – na parte que ela olha o menino deus e assiste o Guaíba com o seu vai-e-vem belo e ultimamente perigoso, a baía-de-todas-as-águas
23/06/24
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